terça-feira, 26 de junho de 2012

Cesária, uma questão política e de saúde pública!



Quando engravidei comecei a ser bombardeada por uma série de informações, principalmente na internet e na família. Uns militando pelo parto normal e natural, outras pela cesária e a assim começou a guerra. Sim, guerra! Porque eu tive contato com tantas colocações infelizes, frases duras e histórias trágicas que as pessoas ao meu redor começaram a fazer uma guerra sobre a forma eu vou parir, eu não me meti na história, não coloquei meus soldados em campo porque eu sempre soube que no fundo as coisas iriam se ajeitar ao meu favor de uma maneira ou de outra.
Comecei a ler relatos de parto, conversar com amigas que já haviam passado pela experiência e fiquei triste ao constatar que aquelas que mais planejaram seu parto ficaram extremamente frustada porque não conseguiram ter o parto que tanto sonharam, por isso, resolvi me preparar para o que der e vier, tanto faz se meu filho nascer de parto normal ou cesária só quero que ele venha com muita saúde, é tudo o que peço.
Nestes dias, acompanhando tantas discussões e passeatas sobre o direito de ter parto em casa, fiquei pensando que muitas de nós, gestantes, ainda não temos nem o direito de ter um parto do jeito que queremos, com atendimento de qualidade, em hospitais de qualidade e, principalmente, com respeito. 
As diretrizes propostas pela OMS não são respeitadas e muitos médicos nem fazem questão de ler, aliás, estes são outros coitados que trabalham em hospitais, muitas vezes, sem o mínimo de estrutura e salários dignos para exercer sua profissão. E por aí vai uma série de problemas que caracterizam falhas na gestão pública, falhas de investimento em saúde e educação de qualidade. 
Em conversa com uma prima médica, perguntei: Por que tantas cesárias? Ela ela respondeu simples e claramente: "Não há tempo para esperar que o TP evolua completamente, em uma maternidade pública, 8 horas de trabalho de parto em uma única paciente é tempo suficiente para que chegue mais 10 na sala de espera". É uma questão tão obvia, mas que só interessa de fato a quem utiliza o serviço...
Além disso, atualmente existe uma preferência por parte das mulheres e realizarem o parto cesário, principalmente por causa da dor e pela facilidade de poder "preparar" melhor as coisas para a chegada do bebê, enfim eu não quero entrar no mérito do porquê mulheres escolhem este tipo de parto, porém fico extremamente aborrecida quando mulheres que optam pela cesária precisam ouvir que são mães desnaturadas, que serão menos mães por causa disso e coisas do tipo. Mas alguém já viu alguma propaganda ou programa de educação em prol dos benefícios do parto normal?
Infelizmente a sociedade está em um grau onde a vida é cronometrada no relógio e planejada na agenda. E isso explica muita coisa! Uma grávida que trabalha 8 horas por dia não tem muito tempo para curtir a gestação; próximo do parto ela tenta trabalhar o maior número de dias possíveis para que sobre um pouco mais da licença maternidade para ficar com seu filho; depois disso ela tem que correr atrás de uma babá de confiança ou ter a sorte de encontrar uma boa creche para deixar seu pequeno e ainda por cima tem que ouvir reclamações todas as vezes que precisa se ausentar do trabalho porque o filho não estava se sentido bem. Resumindo, não temos muito tempo pra ser mãe, pra curtir a gravidez e a maternidade, para acompanhar as descobertas do filho e ainda assim, sem tempo, preparar filhos melhores para um mundo caótico.
Acho que antes de julgar as escolhas das pessoas, é necessário analisar a  realidade que levam à construção destas. Ao invés de julgar mães, não seria mais fácil cobrar politicas e ações do Estado?
1. Deveria existir um programa de educação para o parto esclarecendo as mulheres sobre os tipos de parto, seus benefícios e consequências. E isso deveria ser algo rotineiro nos meios de comunicação, acredito que uma medida como essa ia fazer com que muitos adolescentes pensassem duas vezes a respeito do uso da camisinha.
2. Já que se reclama tanto sobre super lotação em hospitais onde médicos são levados a realizar cesárias, por que não disseminar casas de parto pelo país? Porque não formar profissionais que auxiliem mulheres a terem o parto na sua residência?
3. Por que não aumentar  os direito das grávidas e das mães? Fando com que elas tenham mais tempo para se informar sobre a gravidez e cuidados com os bebês?
4. Por que não exigir que as empresas liberem as grávidas para que participem de cursos de gestantes junto com seus maridos?
5. Por que não construir mais creches ou pelo menos cobrir os custos que os pais têm ao colocarem seus filhos em creches?
Acredito que uma das bases do que chamam de qualidade de vida está na família. Está em filhos com mães e pais!

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